Sunday, March 28, 2010

Dilatação

Pouso de astronave é sempre um evento: imprensa, público assistindo, técnicos preocupados com a segurança, astronautas desesperados para se livrarem de seus trajes.

Oscar chegara de uma expedição inovadora: os problemas de superpopulação e escassez de recursos naturais da Terra seriam resolvidos, pois a viagem de um ano para encontrar novo planeta habitável havia sido bem-sucedida.

Uma senhora muito idosa veio abraçá-lo, provocando lágrimas nos olhos de ambos: eram avô e neta. “Apenas um ano atrás, os mesmos olhos eram de Paula”, ele pensou, lembrando-se do rosto de sua esposa ao se despedirem para a partida.

O ano era 2139.

Wednesday, September 30, 2009

Exército da Salvação

Tem um velhinho do Exército da Salvação que sempre vinha pedir doações em um restaurante em que costumo almoçar com meu pai. Ele usa uma espécie de farda, e entrega cartõezinhos com versículos da Bíblia mesmo para quem não “contribui”. Nunca pede diretamente – fica implícito que ele está coletando doações.
Já fazia muito tempo que eu não o via. Teria morrido? Estaria doente? Mas hoje fiquei contente de ouvir aquela vozinha fininha e risonha, falando devagar:
- Oi, meniiiiino, como é que vaaaaaaai?
Dei dois reais e disse-lhe que tinha sentido sua falta. Ele sorriu:
- Deus abençoe, Deus abençoe!

Tuesday, September 22, 2009

Quintino

Caminhava pela Quintino Bocaiúva, seis da tarde, em direção à faculdade, quando uma mulher me abordou e disse algo. Não entendi: estava com fones de ouvido. Retirei-os e pedi que repetisse, quase caindo de costas quando ela perguntou:
- Quer fazer programa?
Fiquei sem jeito, mas apenas disse que não, obrigado, e retomei o caminho para a aula.
Tive dó dela. Parecia ser bem simples, e imaginei que fosse daquelas de rua, que cobram dez reais. O mais triste é que só bem mais tarde pensei que poderia ter contra-proposto pagar os dez reais para ela voltar para sua casa.

Thursday, September 17, 2009

Despedida

Faltavam uns quinze minutos para o ônibus de Mônica sair.

Ney a acompanhava. Ele era da cidade, ela era charmosíssima, era natural que tivesse tentado se aproximar quando a viu pela primeira vez, meses antes.

E se aproximaram: os dois viraram amigos próximos. Mas ele sabia que era uma armadilha.

Naquele dia, eles conversaram muito e, na hora da despedida, abraçaram-se. Recuaram um pouco, os rostos separados por centímetros. Silêncio... e ele hesitou: “e se ela ficar brava”?

Não a beijou, e ficou preso, para sempre, à armadilha: pensar o poderia ter sido, se tivesse agido diferente naquele último encontro.

Friday, June 19, 2009

Pro meu filhinho

Querido filho,

Cadê você? Por que ainda não chegou?

Eu e sua mãe estamos esperando! Há pouco tempo, achamos que você estava chegando, ficamos felizes e aliviados, pois estávamos preocupados. Mas não era você, era seu irmão, e ainda por cima ele não está aqui conosco: foi embora, não quis ficar.

Mas você, com essa demora toda... Você sabe que vai ser bem recebido, não sabe?

Estou brincando, filho. Toma teu tempo. Sei que você vai chegar quando estiver pronto, e quando achar que estamos prontos também.

Um beijo, e Deus te abençoe. Venha com calma, e chegue bem.

Papai.

Friday, May 8, 2009

Nós dois

Era lindo vê-la seminua na contraluz. Deitada de lado, de frente para ele, exibia a silhueta, seus contornos brilhando à luz suave. O lençol a cobria apenas até cintura.
Em silêncio, sorrindo, ele brincou de “caminhar” com os dedos sobre ela, partindo do ombro, indo aos quadris, passando pelo “vale” da cintura. No caminho, roçou o braço no seio dela. Arrepiaram-se ao mesmo tempo.
Quando chegou ao lençol que a cobria parcialmente, ele o agarrou, mas não o moveu. Olhou-a com um sorriso ameaçador. Ela respondeu sorrindo doce, convidativa.
Uma das quatro mãos dirigiu-se ao interruptor do abajur, para apagá-lo.

Thursday, May 7, 2009

Sábado de emoção

Descamisado, no sofá da sala, assistia ao futebol pela tevê. Sábado de janeiro, quente pra diabo, família na praia, e eu tendo de ir trabalhar no dia seguinte: aquilo era toda a diversão que eu podia ter.
Mas tudo bem: cervejinha gelada, a pipoca estava crocante e meu time, prestes a ser campeão.
Súbito! – minha história tinha que ter emoção, bolas – uma pipoca escapou da minha mão e caiu. Oh! Céus!
Felizmente, os pelos da barriga a apararam! Ufa! Por pouco!
“E agora? Como vou salvar essa pobre pipoca?”
Assobiei e Totó, o herói do dia, correu para o resgate!

O perdido e a perdida

Ele andava havia várias horas. Tinha certeza de que já passara por aquela rua, por aquele prédio, mas não conseguia perceber o jeito de sair de lá e encontrar o caminho de volta.
Sentia saudades de casa.
Ficou melancólico. Lembrou-se de sua caminha, da comidinha caseira, do carinho da família.
Ao vencer uma ladeira, viu uma mulher parada na esquina. Um quarteirão cheio hospedarias geminadas, ela estava à porta de uma delas. Suas roupas eram justas e provocantes, sua maquiagem carregada, e ela fazia sua melhor cara de convite. Olhou-o e perguntou:
- E aí, meu bem? Posso ... ajudar?

O lenhador e a donzela

Era uma vez um lenhador que vivia numa floresta tão fechada onde sol jamais vencia a copa das árvores. Parecia sempre noite.
Ninguém dava atenção para aquilo, exceto os bichinhos rastejantes (viviam resfriados e com frio) e o lenhador, que era a única pessoa dali.
Um dia, voltando da aldeia mais próxima (que ficava a dois dias de sua choupana), ele viu uma moça muito branca e bonita, aparentemente perdida.
Poderia ser uma princesa fugitiva, uma maluquinha que perdera o rumo de casa, ou até um espírito.
“Em qualquer caso”, pensou, “finalmente o sol brilhou sob a copa das árvores.”

Wednesday, May 6, 2009

Brincadeira de mau gosto

Sentei ao computador, pronto para escrever mais um causo em cem palavras. Iniciei o sistema operacional, tamborilando na mesa, impaciente.
Tinha acordado com um arroubo de grandeza: “Hoje escreverei um causo sem igual.” Eu não tinha idéia de quão certo estava.
Abri o editor de texto e comecei a escrever. Comecei várias vezes, mas apagava tudo, insatisfeito com qualquer início tentado.
De repente, uma idéia louca me veio à mente.
“Claro. É o causo perfeito!” A partir daí, o texto se escreveu praticamente sozinho.
Sorri, ao terminar, com a satisfação de poder concluí-lo com a palavra ideal para isso: “fim”.

Tuesday, May 5, 2009

Anual, não semestral

No primeiro ano, eles se conheciam de vista, mas não trocaram nenhuma palavra.
No segundo, ele sentava mais pro fundo, e admirava os cabelos da nuca que se libertavam da trança que ela costumava fazer.
Numa aula muito chata no terceiro ano, sem querer, trocaram olhares, e sorriram um para o outro.
No quarto ano ela adorou saber que sua boca ficava meio que na altura dos lábios dele quando estavam em degraus diferentes.
Não se encontraram no quinto ano... Mas tempos depois, numa audiência representando partes opostas, nem o juiz percebeu que seus pés se tocavam sob a mesa.

Tuesday, April 7, 2009

Poetisa

Sentou-se ao lado dele, no banco da praça (talvez não fosse um banco, nem uma praça), estendendo-lhe seus escritos. Ele leu calmamente em silêncio, tentando manter uma expressão neutra (divertiu-se internamente, percebendo a ansiedade dela).

 Ao final, fechou os olhos e fez cara de quem saboreia chocolate. Até deixou escapar “hmmm”.

 Olhou-a, dizendo: “Por que você não escreve poesia? Você leva jeito de poetisa!”

 A pergunta a pegou de surpresa, mas foi uma surpresa tão boa que ela se afastou, sorrindo e saltitando.

 Foi então que ele percebeu que quem saltitava não era ela, mas os versos que ela escrevia.

Friday, February 13, 2009

O homem mais inteligente do mundo

Lucius, o homem mais inteligente do mundo, sempre tinha ouvido que ninguém deve se achar melhor que os outros – “sempre haverá alguém mais inteligente e alguém mais burro que você”, diziam.
Mas o raciocínio lógico era: “se para cada pessoa sempre houvesse alguém mais inteligente, então a população do mundo seria infinita. Conclusão: existe um mais inteligente de todos”.
Percebendo que só convivia com pessoas mais burras, decidiu partir pelo mundo, à procura de alguém mais inteligente, mas torcendo para não achar.
“Não deixa de ser uma prova pelo absurdo”, pensou, risonho, quando saía de casa em direção ao aeroporto.

Thursday, January 22, 2009

Reforma gramatical

- É sabido que o acento diferenciador de classe gramatical é supérfluo, sendo o contexto suficiente para a interpretação do termo. Assim, considerando que a função dos acentos é orientar a pronúncia, proponho a extinção do acento diferenciador na palavra “como”.
- Apoiado!
- Sus!
- Ótimo!
- Que idéia burra! – de repente, todos se calam.
- O quê ? Minha idéia é o quê? – o proponente, já encolerizado.
- Burra! Como sua mãe e como sua irmã! – sorri o outro, satisfeito por voltar o feitiço contra o feiticeiro.
- Sacripanta!
- Mandrião!
- Poltrão!
- Biltre!
Eram ambos gramáticos.

Monday, January 12, 2009

Flores

Era um garoto de dezessete anos, apaixonado, loucamente, pela colega de cursinho.Vivia de bicos, e com dificuldade juntou um dinheirinho para uma surpresa para ela. Inspirado pelos livros que era obrigado a ler para o vestibular, passou numa floricultura e enviou-lhe uma dúzia de onze rosas vermelhas (a décima-segunda era ela).
- Você foi um amor – ela disse, depois, pelo telefone. – As flores eram lindas.
- “Eram”? – perguntou, antecipando que o namorado a teria feito jogá-las fora.
- Pois é... Tavam tão perfumadas que não resisti e comi todas! Uma delícia!
- Ah... é...?
Achou esquisito, mas melhor não comentar.

Sunday, September 14, 2008

Oxicocos

Ele a encontrou num banquinho do parque, quieta. Estava sentada, brava, de braços cruzados. Esforçou-se para tentar não irritá-la, mas ela o olhou com desprezo.
Não devia ter confiado em você...
– Meu amor, foi uma vez só... – ele começou a se explicar.
Cada pensamento ridículo... Eu chorei tanto!
– Voce me amava... – continuou ele, contra o silêncio.
Eu devia ter mentido...
Aproximou-se, então, para tentar beijá-la.
Isso não vai acontecer, de jeito nenhum!
Com os braços, o afastou, e foi embora, sem olhar para trás.
Agora é seguir em frente...
Ele nunca soube se ela chorava enquanto se afastava para sempre.

Monday, May 19, 2008

Sem as mãos

Meu sonho é que meu filho ou filha seja mais inteligente do que eu. Imagino a seguinte conversa com ele:
- Filho, pode me mostrar como é que entra na holonet? Parece que já tem área do STF pra gente assistir aos julgamentos, né?
- Claro, pai, vamos lá.
- Dá para gravar o vídeo num Bluray com seu micro?
- Ih, pai, os drives novos já não lêem mais discos...
Me sento na frente do computador e pergunto:
- Mas, filho, onde está o teclado? E o mouse?
- Ué, pai? Você quer usar o micro com as mãos?!?

Monday, May 5, 2008

Prova "Indiana Jones"

Era comum, na faculdade, que eu estudasse “mais ou menos” para provas: lia pouco, fazia alguns exercícios, e sobravam dúvidas.

Algumas provas eu recebia e percebia não saber muita coisa. Mas, mantendo a calma, tentava seguir um raciocínio lógico (era mais fácil por ser Engenharia) e deduzia alguma coisa que não tinha estudado.

Às vezes, quase terminando, eu percebia um erro fundamental e tinha de refazer tudo – mas sabendo estar certo. Era mais emocionante quando acontecia nos últimos minutos de prova. Eu apagava tudo e reescrevia como louco – sentia-me como Indiana Jones fugindo da pedra gigante. Só faltava a musiquinha.

Saturday, May 3, 2008

Viagem

Joca, o CDF, parou seu carro num posto de estrada (daqueles com lanchonete, banheiro e borracharia) para que Kléber, o surfista vagabundo, usasse o banheiro e comprasse cigarros. Joca esperaria seu colega de faculdade no carro.
Três minutos e cinquenta segundos depois que Kléber entrou na lanchonete, Joca o viu sair gritando: “Vambora, vambora!”. O pavor fez com que, em desespero, ele desse marcha a ré antes mesmo do amigo terminar de fechar o carro.
Kléber não foi claro sobre o que acontecera, e Joca achou melhor não insistir. Não era assim que deveria começar uma viagem para o Guarujá.

Wednesday, April 30, 2008

Rápido

Primeiro, fiquei triste por sair do útero. Depois, fiquei feliz por ter sentido o calor da minha mãe. Então, fiquei triste por cair ao tentar andar. A seguir, fiquei feliz porque olhei para trás e vi que minha mãe não estava equilibrando minha bicicleta havia uns cem metros. Mais tarde, fiquei triste com o primeiro fora que levei, mas logo ficaria feliz com o sorriso do meu pai quando contei que entrei na faculdade. O último beijo que dei na minha vó me deixou arrasado... mas, no final, ouvir minha noiva dizer sim olhando pros meus olhos reiniciou minha vida.

Tuesday, April 29, 2008

Índia

Quando desembarquei na Índia em 2002, minha primeira impressão foi desagradável. O cheiro era uma mistura de maresia e suor. E olha que eu estava em Mumbai, a principal cidade do país. Foi lá que senti o pior cheiro da minha vida, numa manhã de sábado nos subúrbios. A pobreza e o trânsito também eram de matar.
- Ué, se foi ruim assim, por que está de volta, com esse mochilão nas costas?
Ah, é que os indianos têm um sorriso tão caloroso! E pela balançadinha lateral que eles dão com a cabeça quando concordam com algo: senti saudade disso.

Prestação de contas

Encolhido no canto de um barraco, o matador H. olhava para a escopeta apontada para seu rosto. Estava prestes a morrer.
Tinha sido surpreendido de madrugada, mas maior surpresa era que quem o ameaçava não tinha aparência de assassino. Poderia ser um contador.
- Lembra dum trabalho que tu fez em 2001? Apavorar um funcionário da empresa I. para ele fechar o bico?
H. reconheceu: seu assassino era o tal alvo!
- L-lembro... Era para te encher de medo... Por isso não era tu que era pra apagar.
- Pois é. Mas quando matou quem matou, tu me tirou tudo. Inclusive o medo.

Wednesday, April 23, 2008

Aberto para interpretação

De olhos fechados, Fran inspirou o ar gelado, sentindo o sol no rosto. Manhã linda, um “céu de brigadeiro”.
Abriu os olhos para uma paisagem maravilhosa, quilômetros de natureza em todas direções.
Os braços de Gabi a envolveram. O abraço aconchegante, em contraste com o frio, fez seus olhos marejarem.
– Dói muito... Saber que nunca mais vou ver isso.
Gabi tocou-lhe a bochecha com os lábios. Sofria também; sabia que a amiga carregava o maior fardo. Mas a própria Fran enxugou as lágrimas e disse, na volta para o carro:
– Vamos lá... Pra que adiar o que tenho de enfrentar?

Saturday, April 19, 2008

Notícia

- Essa surpresa... Vai nos trazer dinheiro?
- Hmmm... Não sei... Talvez daqui a alguns anos...
- Já entendi, pode parar com a risadinha: não vai trazer dinheiro.
- Olha, é uma coisa que a gente queria muito...
- Ah, achou a mesa de centro que a gente tava procurando.
- Não, nada tão trivial.
- Epa!
- Hihihi... Adivinhou?
- Você ...?
- Ahãm! Você vai ser papai.
- E-eu...eu...
- Hihihi... Você sempre cheio de respostas, agora gagueja? E o que... é isso... no seu olho? Você... tá chorando?!?
- ...
Naquele momento, ele realmente não tinha resposta.

Friday, April 18, 2008

Noivado

– Carla, espera!

A moça continuou apressada pela rua, segurando o choro.

– Carla – exclamou Daniel, alcançando-a e tocando seu ombro. Ela parou – não se desvencilhou para não chorar. Mas não se virou.

– Florzinha, não era pra você estar aqui! Você entendeu errado!

Ela não aguentou sem responder. Virou-se, berrando:

– Errado? ERRADO?? Você estava numa joalheria com outra mulher!

– Escolhendo isto!

Uma aliança dourada – com os nomes de ambos gravados – aproximou-se dos olhos dela. Abraçou-o chorando, num misto de comoção e arrependimento.

– Aos poucos, – disse ele, sorrindo – a gente vai se conhecendo melhor, né?

E abraçou-a forte.

Wednesday, April 16, 2008

Barangas

Durante uma viagem para a praia com alguns amigos, um programa muito comum no entardecer era caminhar pela praia, batendo papo, olhando as pessoas, esse tipo de coisa.

Um dia, fomos caminhar, eu e três amigos. Andamos alguns quilômetros pela areia, mas decidimos voltar pelo calçadão, junto da rua. De repente, um carro cheio de meninas desacelerou pertinho de nós, e uma delas colocou o corpo para fora do carro, passando a mão na minha bunda. Depois foram embora fazendo algazarra e mandando beijinhos.

Claro que fui alvo de gozação, até ganhando o apelido – talvez injusto – de “rei das barangas”.

Tuesday, April 15, 2008

Oportunidade

Alfredo e Bete compartilharam a melhor época de suas infâncias. Vizinhos “de porta”, como se dizia onde moravam, ele era o marido na casinha de Bete, e ela, a chefe dos apaches que atacavam o forte do general Alfredo.
Com a separação dos pais dele, passaram a se encontrar com pouca freqüência, nos eventos familiares, muito rapidamente.
No casamento de Alfredo, Bete, a amiguinha de infância, a irmãzinha que ele não teve, fez questão de dançarem uma música juntos. Enquanto dançavam, ela exclamou, olhando para a noiva:
– Ela agarrou a oportunidade que eu deixei passar.
Abraçaram-se, forte, pela última vez.

Monday, April 14, 2008

Loiras no metrô

Hoje no metrô observei três moças que se destacaram no meio da multidão. Eram loiras e altas (mas esse conceito de altura é difícil de precisar, já que eu mesmo sou alto e todo mundo é baixo para mim). Elas entraram no trem lotado, e ficaram de pé conversando. Reparei que uma tinha um pequeno corte na testa, parecia um corte recente. Depois de algumas estações, dois assentos (separados) ficaram vagos, e duas delas se sentaram. A que ficou de pé conversou um pouquinho com uma e depois com a outra. Depois que desceram na Sé, não mais as vi.

Thursday, April 10, 2008

Manga com leite

Quando eu era criança, e morava no interior, gostava de brincar num morro perto de casa, onde ficava uma enorme mangueira. Um dia, minha mãe me deu uma bronca por brincar demais na hora de tomar meu leite de manhã, e inclusive me deu uns safanões. Eu tomei o leite e fiquei tão chateado que resolvi ir até minha mangueira querida, para comer uma manga que – imaginei – me mataria por ter comido logo após beber leite. Horas mais tarde, cansado de esperar pela morte, voltei para casa para pegar minha pipa, pois estava dando um vento muito bom naquela manhã.